Foi perto das cinco. Meu irmão logo chegaria para buscar o Felipe e um cheiro invadiu o ambiente: o da loção pós-barba de meu pai. Até perguntei aos que me rodeavam se estavam sentindo um odor fresco e amadeirado, mas eu sabia que o negócio era comigo... Andei falando dele nesses dias... E com o cheiro da loção, a memória olfativa correu solta: parei minha leitura e me permiti viajar em histórias, brincadeiras e momentos de tensão, que hoje percebo tão amorosos como qualquer outro onde houve o riso.
Mamãe escolheu bem. Mesmo ela tendo - como seu pai, mãe, tios, primos disseram - ótimos partidos para escolher, ela escolheu um homem que chegara à cidade, que ninguém conhecia e um tanto namorardor... Mas ela sabia que não era o carro, o dinheiro, o restaurante certo ou a roupa certa ou que tudo fosse perfeito-charmoso-divertido (e certo!) que importava. Ela preferiu a conversa sossegada, a paz de um passeio no parque. Ela tinha valores diferentes e não precisou de um ótimo partido para ser feliz.
Saudade. O cheiro permaneceu por um longo tempo. Pareceu estar impregnado em meu vestido, como nas vezes que um abraço faz a gente passar o dia com perfume - às vezes nem tão agradável - do abraçado na roupa...
Gosto de pensar que mesmo longe, eles estão pertinho....